
Um
dia da semana passada eu estava caminhando por uma alegre rua no
Queens com uma das minhas pessoas favoritas, mas eu mal estava lá.
Eu
estava estressado por uma porção de problemas iminentes, quando um
pombo agressivo me tirou dos meus temores. Isso me deixou lúcido por
tempo suficiente para me permitir lembrar de um peculiar e relevante
fato sobre a vida.
Todo
o problema que eu já tive – cada crise de palpitação, cada
responsabilidade assustadora, cada quebra de confiança ou
expectativa, todas as coisas que eu já achei que não conseguiria
controlar – havia passado. Exceto duas ou três coisas.
Sempre
foi assim. Em meus 31 anos, encontrei-me periodicamente sendo
consumido por crises pessoais circundando meu emprego atual,
relacionamento, problemas financeiros ou perspectivas futuras. Tem
ocorrido um monte destes ultimamente, e eu estava bem no meio de um
quando o pombo me assustou.
Você
conhece o tipo. Eles assumem o controle da mente. As coisas parecem
estar saindo dos trilhos, você se sente doente preocupando-se como
as coisas irão terminar, e começa a desejar ser o seu gato, que só
precisa se preocupar se irá deitar no sol agora, ou se vai comer
agora e ir para o sol depois.
Algumas
destas catástrofes dominaram a minha mente por semanas, algumas
apenas durante uma tarde terrível, outros conseguiram arruinar
alguns meses.
Eu
não sei quantos destes descarrilamentos aconteceram exatamente.
Talvez algumas centenas, de uns bem ruins, e talvez alguns milhares
que somente me consumiram por um dia ou algo parecido. Trata-se de
uma robusta coleção de horrores, um digno tempo de vida de
catástrofes. Se eu tivesse documentado todos eles com a minha Nikon,
a coleção faria um dramático álbum de tragédia pessoal.
Premiado. Todos nós temos um. Todos eles, em qualquer idade que
aconteceram, vieram com o sentimento de que a minha vida agora
estaria seriamente ferida. Cada um possuía sofrimento suficiente
para escurecer a visão de toda a minha vida, me fazendo desejar ser
outra pessoa.
E
aquela tarde eu estava desesperadamente tentando aproveitar a
caminhada na rua, em um lugar que eu amo, com uma pessoa que eu amo,
e nenhum deles estava me incomodando nada.
Meu
terrível verão de inútil procura por emprego tinha acabado anos
atrás. Meu desastroso exame de estatística da faculdade, que me
despedaçou na época, não estava na minha mente. Ter sido
abandonado por uma garota X anos atrás, um momento no qual a vida
pareceu estar em colapso, não parecia problemático.
O
que estava me consumindo aquele dia eram três preocupações vivas
em cima de uma pilha de milhares de preocupações mortas – uma
aguda preocupação financeira, incerteza sobre um relacionamento e a
perspectiva de voltar para a força de trabalho após um hiato de
quatro meses.
Preocupações
se contorcem na cabeça como plantas mutantes, dividindo-se em outras
preocupações, obscurecendo a luz, sufocando a sabedoria. Elas
germinam em um muro de pensamentos negativos, imaginando um cenário
horrível o qual você começa a pensar que é a sua vida a partir de
agora. Terrível e incontrolável.
É
impressionante o quão bom achamos que somos em prever o futuro
quando estamos prevendo um sombrio. Do interior da catástrofe, os
tempos fáceis parecem ter acabado, ao menos por enquanto, talvez
para sempre. Os maiores parecem prontos para matar você de modo que
esquecemos que nenhum deles jamais teve tal capacidade, e que a
qualquer momento quase todos eles estarão mortos.
A
mente humana, na maior parte do tempo, é bastante infantil. Eu quero
isso. Eu quero sair daquilo. Eu não quero perder isso. Eu estou com
medo daquilo que vai acontecer.
Nós
temos flashes de sabedoria, de coibição e aceitação. Mas a
maioria das nossas mentes está pilotando as nossas vidas com
instruções e crenças bastante simples. Consiga mais do que você
quer, pegue menos do que você não quer. A coisa que eu quero é
boa, a coisa que eu não quero é ruim.
A
vida nos dá muito daquilo que não queremos. Talvez mais disto do
que ela dá na outra categoria. Preocupações em desenvolvimento
descem à nossa consciência como emoções – pensamentos grandes e
pesados que tomam parte do nosso corpo para se estabelecerem. Eles
nos apertam no plexo solar¹, ao redor da boca, nas pálpebras. Eles
podem enrubescer a pele, aumentar a temperatura do corpo, embrulhar o
estômago.
O
corpo responde aos pensamentos temerosos como se estivesse esperando
perigo físico. Neste momento, o discernimento parece deixar a sala,
como experientes frequentadores de bar fazem quando patrões jovens
estão começando a ficar desordeiros e desleixados. Então, a parte
de reação da mente é deixada sozinha para avaliar coisas, o que ela só faz com pânico e gritos. Ela desce correndo
disparando alarmes. As coisas estão muito más! Meu Deus! Isto
nunca deveria ter acontecido! A prudência volta apenas quando
você para de surtar. Ela simplesmente não pode trabalhar numa mente
em pânico. Os desastres empurram a sabedoria para fora quando eles
chegam à sua vida. A catástrofe, depois de tudo, não é uma
situação, ela é um fenômeno emocional. A mesma situação pode
produzir duas experiências completamente diferentes, dependendo se
você rolar com o problema ou não.
Eu
tive um período difícil, percebendo isto quando eu estava no meio
de um, mas eu preciso de cada pequena catástrofe que tive. O
presente é sempre a soma de tudo o que aconteceu antes do agora. Sem
todos aqueles flagelos, eu não poderia estar aqui. Cada um pareceu a
ruína, porém, pouquíssimos ainda povoam a minha mente agora.
Quando
você olha para sua vida em escala, o problema típico é o
resolvido. Calamidades não resolvidas são exceções raras quando
você considera quantas existiram e quantas possuem algum significado
hoje.
Sempre
foi desta maneira – cada desastre inevitavelmente desistiu de sua
posse emocional, exceto aquela fina borda consistente de duas ou três
coisas que estão realmente incomodando você neste exato momento. E
eles também irão ceder à outra coisa em breve.
Então,
talvez minhas questões-du-jour (Francês: do dia) não
deveriam me perturbar tanto, sabendo que não sou eu, mas os meus
problemas que estão condenados. Eles estão sentenciados a serem
deixados para trás assim como todos os seus irmãos mortos.
Reagir
a dilemas com um senso de desgraça é altamente condicionado por
muitos de nós, porém, o truque é conhecer quando isto está
acontecendo e se lembrar de que catástrofes são estados emocionais,
não as situações em si. Aquele sentimento de estacar, no que eu
vejo como uma rua sem saída, geralmente me faz cometer todas as
coisas que deixam a situação ainda pior: ficar furioso, culpar
outros, desejar um deus ex machina² para me salvar.
O
que eu realmente deveria estar fazendo é garantindo que eu consiga
manter o ritmo. Eu deveria entrar em uma catástrofe com a mesma
consciência de expectativas positivas de quando eu estava em uma
situação agradável. Eu tenho feito isto com dilemas menores e é
incrível como funciona. O problema em si mesmo – a incerteza, a
possibilidade de dor ou custo, o cenário em si – não desaparece
instantaneamente, mas o seu status como um "problema" às
vezes se vaporiza na hora em que eu decido que não vou me afligir
sobre o assunto.
Antes
de alguém citar, sim, Churchill fez uma observação demasiadamente
famosa sobre passar por momentos difíceis: "Quando você está
atravessando o inferno, continue indo". Mas é um pouco mais do que
isto. Você precisa continuar andando de qualquer maneira, não
importa o quão triste você está. O tempo fará com que você
eventualmente faça alguma coisa. O que é crucial, no seu pequeno
passeio através do inferno, é como você caminha. Postura,
velocidade, se os seus olhos estão nos seus pés ou no horizonte –
isto é o que transforma desastres vivos em mortos rapidamente.
No
outro lado de toda desgraça está a parte boa da vida. Esta é uma
verdade perpétua. Todas as catástrofes nos levam eventualmente a
prazeres, pessoas novas e maravilhosas, e sentimentos de satisfação
própria, de modo que podemos reconhecer que entrar em um problema, é
a mesma coisa do que entrar em algo bom que está logo ali.
Agarrar-se, augurar e culpar somente prolonga a tempestade emocional
ao redor da situação, e a parte emocional é a única razão pela
qual os problemas são tão dolorosos.
Você
estará caminhando pelo resto de sua vida, não importa o que você
faça, e depois das milhares de sessões de preocupações sobre como
fazer, as coisas acontecerão da maneira certa. É a marcha da pessoa
que determina a qualidade de vida dela, não o que ela está
atravessando no momento.
Sim,
cada um dos meus desastres foi necessário para me trazer até aqui,
e o aqui ainda é um lugar extremamente vantajoso,
considerando todos os "finais de mundo" que aconteceram comigo.
Eu tenho as coisas boas que eu tenho por causa de todos aqueles
problemas, não apesar deles. Não existem ruas sem saídas exceto
(talvez) morte, e a qualquer momento a única coisa a fazer é passar
para o próximo assunto (em Inglês).
Isso
é simples o suficiente para entendermos, porém ainda deixa em
aberto a questão de como iremos caminhar pelo resto de nossas vidas
– se teremos passos hesitantes, ou se nos recusaremos a dar
qualquer passo.
A
emoção da perdição simplesmente não faz sentido algum. Não
existe uma perdição real na vida cotidiana. Nenhuma das suas
catástrofes arruinou você. Elas fizeram você. Se você for como
eu, quando você vê coisas dando errado, você quer diminuir o
ritmo, evitando mover-se para frente por que você não quer que nada
mais dê errado.
Porém,
desastres são feitos de papel. Você toma uma decisão ou duas,
então atravessa eles como se fossem uma inofensiva loja de esquina,
e logo eles estão atrás de você, na enorme pilha de mortos e
inofensivos problemas que uma vez lhe deixaram doente.
O
céu já caiu milhares de vezes.
***
¹O plexo solar,
também conhecido como plexo celíaco, é um agrupamento autônomo de
células nervosas no corpo humano localizado atrás do estômago e
embaixo do diafragma perto do tronco celíaco na cavidade abdominal.
(N. do T.)
²Deus ex machina expressão latina que é utilizada para indicar
uma solução inesperada, improvável e mirabolante para terminar uma
obra de ficção ou drama. (N. do T.)
Foto de Aussiegal.
Esta é uma tradução livre do artigo de David Cain, no Raptitude, realizada por Moisés Boff e revisada por Alexandre Heitor Schmidt.
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