
No Facebook, eu silenciosamente paro de seguir amigos que postam de forma raivosa sobre alguma causa, mesmo se estiverem certos. Eu não quero ser atacado pela "verdade", independente do quão verdadeira ela seja.
Eu entendo porquê eles fazem isso. Eu já fiz isso. A ignorância — sobre pesca excessiva, fábricas de filhotes, sexismo normalizado, sobre o que as vacinas podem e não podem fazer — pode ser genuinamente perigosa, e o desejo de se reduzir esta ignorância é compreensível.
Alguns conseguem fazer isso de forma cuidadosa e diplomática, e eu tenho aprendido muito destas pessoas.
Mas a maioria dos ativistas da internet deixam desprezo se infiltrar na mensagem. O ponto acaba sendo fazer com que os outros estejam errados, ao invés de tentar ajudá-los a estarem certos. Simplesmente visite virtualmente qualquer fórum de discussão ligado a alguma causa. É contraditório. É normal culpar as pessoas pela ignorância delas.
Ignorância, se realmente for isso, não é algo pelo que as pessoas possam ser tranquilamente responsabilizadas. Nós não escolhemos o que não entender, sobre o que não sermos ensinados, o que não nos darmos conta da importância.
A ignorância é cega para ela mesma. Enquanto você está tentando retificar a ignorância de alguém, é fácil esquecer que você também é ignorante, de formas que você não tem como saber.
Independente de quem você seja, tem de admitir que existem infinitas coisas sobre as quais você não sabe, e você não sabe que não sabe. Nenhum de nós está livre da ignorância. Então, em nossas tentativas de reduzir a ignorância, devemos nos aproximar dos outros como companheiros de aprendizagem, ao invés apenas apontar culpados.
A pior coisa que uma pessoa pode fazer para sua postura é entrega-la empacotada com um julgamento moral. Isto elimina efetivamente a liberdade da outra pessoa de concordar, e pode até mesmo criar um oponente comprometido com sua causa. Fazer isso com um monte de pessoas reduz completamente a receptividade do público para com a causa. Mesmo que ela seja verdadeira, quando você joga-la em alguém, ela vai rebater ao invés de aderir.
Aprender significa deixar uma crença atual ir embora, e uma pessoa precisa estar em um estado particularmente receptivo para fazer isso. Mesmo assim, a maioria das tentativas no ativismo de internet ignora abertamente as pessoas que quer (ostensivamente) educar.
Mudar mentes é um trabalho muito delicado. Deve-se tomar muito cuidado para não expressar desprezo pelas pessoas que (ainda) não vêem da sua maneira. Coloque as pessoas na defensiva e suas mentes estão fechadas até que se sintam seguras novamente. No momento em que uma discussão desencadeia uma reação defensiva, a possibilidade de aprender qualquer coisa se foi para aquela pessoa — apesar deste ponto de conflito ser onde a maioria do "ativismo" online inicia.
Esta delicadeza crucial é ameaçada pela nossa frustração com crenças que nós vemos como ignorantes. É difícil não ficar bravo com movimentos tão carente de informações como os anti-vacina, agora que estamos vendo surtos domésticos de sarampo e coqueluche.
Raiva é a resposta mais fácil, e também a mais destrutiva. O que você acha que deu início ao movimento anti-vacina? Provavelmente o mesmo tipo de raiva: "O que nos disseram estava errado e está colocando nossas crianças em risco. As pessoas precisam ficar espertas!"
Mesmo se um dos lados estiver factualmente correto — e este não é sempre o caso — quanto mais raiva for direcionada ao outro lado, menos daquelas pessoas se sentirá segura para mudar de ideia. Encurralar pessoas e contrariá-las apenas fortalece o lado oposto e a racionalização, além de alimentar a "ciência ruim", porque neste ponto, tudo se resume a troca de ruído emocional.
Este tipo de argumentação é uma abordagem quase que perfeitamente inútil para redução da ignorância. Ajudar as pessoas a entenderem algo (se isso é realmente o que o argumentador deseja) é o oposto de brigar.
O sentimento de se estar certo é algo que nos atrái extremamente. É bom estar certo e é péssimo quando estar errado. Mas a circunstância em que temos este sentimento ou não, tem pouco a ver com o quanto os fatos realmente nos apóiam, razão pela qual o vício nesta droga é tão perigoso.
Uma vez que você se prendeu ao sentimento de estar certo, ele se torna mais importante do que de fato estar certo. Todos nós já nos encontramos em meio a debates sem sentido com amigos: Crash foi um filme bom? O Bono está realmente ajudando alguém? Você pode ter percebido que, nestas discussões, não queremos que a outra pessoa exponha um bom argumento, mesmo que tal exposição pudesse nos deixar com uma postura mais inteligente do que antes. Ao invés disso, queremos que sejam feitos apontamentos estúpidos que façam com que o nosso pareça bom. Queremos muito mais que os outros estejam errados do que aprender alguma coisa.
Se você estivesse errado, gostaria que alguém lhe dissesse? Talvez, se isso fosse feito de forma privada e simpática. Fazer isso não é uma habilidade comum. Se você quer aprender como falar com as pessoas sobre qualquer coisa sem coloca-las na defensiva, o brilhante livro Nonviolent Communication (Comunicação Não-Violenta) de Marshall Rosenberg é sua Bíblia. (Na minha humilde opinião.)
É difícil ignorar a tentação de fazer alguém se sentir equivocado. Eu não sou muito bom nisso. No processo de escrita deste artigo, eu notei raiva emergindo das nas palavras várias vezes, e fiz o melhor que pude para mante-la fora do texto. Até porque meu objetivo aqui era "curar" um tipo particular de ignorância.
Este, no entanto, é sempre um terreno movediço, pois você tem que iniciar com uma crença bastante importante para si: "Eu tenho uma verdade que você não tem, e eu vou dá-la a você." Eu tentei manter pragmáticos meus objetivos aqui e não sucumbir ao impulso de atacar e ditar. Mas tenho certeza que isso ainda aparece sem que eu note.
Eu acho que estou certo, mas é possível que eu esteja sendo ignorante de forma tal que eu não entenda. E alguns podem dizer isso na seção de comentários, e novamente eu terei que monitorar minha tentação em oprimir visões contrárias com retórica. Se eu for habilidoso o suficiente, eu talvez consiga genuinamente considerar concordar com eles.
Até mesmo agora eu temo não conseguir agir assim quando tiver a chance. Sou muito bom em enrolação retórica, ou ao menos bom o suficiente para me satisfazer quando faço uso dela. O histórico de comentários deste blog é recheado de estrangulamentos verbais que eu apliquei, a maioria deles motivados pela forma como as pessoas demonstraram que não concordavam comigo. Espero que desta vez meus caluniadores sejam gentis e diplomáticos, porque esta rara forma de generosidade me dará a melhor chance possível de aprender alguma coisa.

Foto de MKHMARKETING.
Esta é uma tradução livre do artigo de David Cain, no Raptitude, realizada por Alexandre Heitor Schmidt.
Sensacional !!!!
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