
Meu corpo me deu uma lição na noite passada. E eu mereci.
Eu vinha sentindo meu ritmo cainr nas últimas duas semanas, e não era sem motivo. Eu assumi mais compromissos pessoais e sociais e não dei conta deles de maneira satisfatória. Os exercícios diários pararam. Relaxei com minha alimentação. Bebi mais e dormi menos.
O corpo é maravilhoso. Ele conduz você por aí, mantém você em forma, manipula o mundo à sua volta. Ele faz seu trabalho. Ele gera afeição aos que o amam. Ele toca sua vida para você. Nos damos conta da sua generosidade geralmente apenas quando ela começa a diminuir.
O corpo também nos perdoa, talvez até demais. Ele aguentará um monte de porcarias antes de ficar bravo. Ele nos dá conselhos educados o tempo todo - a canseira das 15h, o mau humor, o intestino preguiçoso, as feridas estranhas, a boca seca.
Normalmente estamos muito mentalmente focados e o ruído de uma mente superativa pode nos distrair dos conselhos abruptos de nosso corpo. O corpo quer servir, dar prazer, deixá-lo ser você mesmo. Ele pode lhe permitir beber cinco ou seis doses, vez por outra, mas ele lhe punirá se você beber nove ou dez.
Se você não perceber os avisos subliminares, ele eventualmente lhe pegará pelo pescoço e se fará entender. Eu não mantive minha parte do acordo. Eu não cuidei do meu corpo e fui punido.
Então, pelos dois últimos dias, meu corpo me deu uma vingativa dor de garganta. Engolir era dolorido. Ele me deu dores de cabeça, náuseas e arrepios. Sofrer em posição fetal é sempre uma experiência humilhante. Não restam dúvidas sobre quem é que manda.
Foi difícil arranjar vontade para escrever, para limpar, para preparar o trabalho de amanhã. Estou escrevendo isso em meio a resquícios de náuseas e um pouco dopado pelo Neo-Citron. Tudo é colocado em modo de espera quando o corpo fica farto.
O corpo está bem ciente de sua própria posição executiva. Ele é o chefe, mas geralmente um chefe muito bonzinho. Ele oferece muita liberdade, para que você faça uso dela da forma que sentir prazer, mas ele está, em última instância, no comando sempre. Para lembrá-lo disso, ele derruba você em algum momento todos os dias, diretamente para o chão ou outra superfície horizontal. Ele deixa você embriagado e lento e você perde o interesse em praticamente qualquer outra coisa. Ele lhe tira a consciência. Ele revoga a liberdade que normalmente lhe concede durante o dia.
É fácil deixar o corpo no esquecimento, porque ele perdoa muito e é muito honesto. Normalmente sentimos que o chefe é a nossa mente. Mas a mente realmente recebe ordens do corpo. Quando o ritmo do corpo cai, os pensamentos deslizam para o modo auto-defesa: ressentimento, mentalidade vitimista, narcisismo. O corpo está suprimindo suas qualidades mentais mais altas, para voltar sua atenção ao que é mais urgente.
A mente então perde iluminação e sabedoria, e começa a se fixar no conforto. Muitos deles - mais café, outro filme no Netflix, um cigarro, uma bebida, uma rosquinha - não ajudam o corpo de forma alguma. Então ele aumenta a pressão até ter sua atenção e conseguir passar a mensagem clara: você está me impedindo de fazer meu trabalho.
O corpo é a base absoluta da pirâmide de Maslow. Se você não cuidar dele, ele destruirá tudo aos poucos até que você dê atenção à crise. Você não conseguirá ter foco no seu trabalho, você não terá sensibilidade em seus relacionamentos, seus sonhos entrarão em modo de espera e sua auto-confiança encolherá da mesma forma.
Estilos de vida variam muito. Algumas pessoas têm apenas deslises ocasionais. Elas comem e dormem consideravelmente bem, permanecem ativas e ficam doentes uma vez por ano, quando estão estressadas com o Natal. Outras pessoas comem mal a vida toda. Elas se acostumam a sentir-se preguiçosas ou doentes, então o corpo tem que ir mais além. Ele passa sua mensagem por meio de um ataque cardíaco, diabetes ou um derrame cerebral.
Quem quer que você seja, seu corpo está fazendo muito por você e, se você não paga seus impostos em dia, você será notificado.
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A foto de J thorn explica tudo.
Esta é uma tradução livre do artigo de David Cain, no Raptitude, realizada por Alexandre Heitor Schmidt.