segunda-feira, 8 de julho de 2013

O sol está sempre se pondo

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Durante o verão, eu tento orientar meu dia de tal forma que, ao pôr-do-sol, eu esteja fora, em um lugar onde não haja nada bloqueando a visão. Pores-do-sol sempre valem a pena.
Eles também são fugazes. Ao longo de qualquer experiência encantadora de pôr-do-sol, sempre há um momento no qual você se dá conta que o seu brilho chegou ao auge e começa a desaparecer. Algumas vezes eu chego na ponte ou no fim da Westbound streed e percebo imediatamente que perdi esse auge.
Quando isso acontece, ao menos eu posso demonstrar estar feliz pelos outros espectadores um pouco distantes a oeste de mim, para os quais o pôr-do-sol apenas começou a ficar brilhante. Este fato é um maravilhoso presente para os seres humanos - o sol está sempre se pondo.
Milhares de milhas além deles, no mesmo momento, madrugadores de certas ilhas do Pacífico estão perstes a vê-lo nascer. O sol está sempre se pondo e sempre nascendo, sempre lá no alto e sempre fora do campo de visão. Objetivamente, isto é tão verdadeiro quanto qualquer outra coisa que saibamos. Ele está sempre se pondo, neste exato momento.
Temos que reconhecer que esta verdade é relativa ao observador. Se não houvesse ninguém observando o pôr-do-sol, não haveria pôr-do-sol.
Eu sonho com frequência com os selvagens pores-do-sol que devam estar acontecendo em um zilhão de diferentes céus lá no espaço, na superfície de outros planetas. Existem trilhões de estrelas, com diferentes cores e intensidades, e cada uma pode ser vista a partir de superfícies distintas e a diferentes distâncias, através de diferentes atmosferas, ao longo de inimagináveis paisagens exóticas.
Mas provavelmente não haja ninguém lá para ver a maioria deles, e portanto eles estão realmente acontecendo apenas na minha imaginação. Um pôr-do-sol, enfim, é uma experiência. Portanto você precisa de um experimentador, no local certo, para que ele exista. Você ainda poderia dizer que existem bilhões de pores-do-sol potencialmente experimentáveis por aí, mas eles não são reais até que alguém esteja parado lá naquele mundo estranho, assistindo um ardente pôr-do-sol duplo, azul e verde, lentamente se dissolvendo por sobre algumas montanhas.
A ciência é de longe a instituição mais útil que temos para dar sentido às nossas experiências, e para prever o que poderemos experimentar futuramente. A forma como fazem isso é a seguinte: um monte de pessoas diferentes observa o mesmo fenômeno a partir de diferentes ângulos, em momentos diferentes, e o discutem e definem um conceito sobre o que é este fenômeno quando nenhuma pessoa em particular o esteja assistindo. Eles reunem todas estas conclusões e colocam em livros, os quais têm a função de descrever como as coisas realmente são, independentemente da forma como você as possa perceber pessoalmente.
Para nós, ou para qualquer um, o universo é realmente composto apenas de experiências, ou ao menos ele não tem sentido concebível algum, exceto pela nossa experiência a seu respeito. E isso significa, portanto, que o que o universo realmente é depende de quem está lá para ter estas experiências. Tudo a respeito do universo sobre o que afirmamos ter conhecimento deve estar baseado em experiências diretas. Nenhuma quantidade de dados ou teoria científica sobre pores-do-sol contém a verdade sobre o que eles são. Um pôr-do-sol só pode ser realmente conhecido como uma experiência fugaz e subjetiva.
Este é o único motivo pelo qual nós temos a ciência - para encontrar padrões por trás de nossas experiências. Estes padrões são úteis para a compreensão, pois eles podem nos ajudar a saber, por exemplo, se um evento próximo está mais propenso a criar uma experiência subjetiva de se ficar molhado da chuva ou uma experiência subjetiva de se ficar queimado do sol. Nós nos importamos com estas coisas, porque elas são experiências, e não há nada mais com o que possamos nos importar, pois isso é tudo que a vida é.
Eu penso que estejamos correndo o risco de nos esquecermos que o conhecimento científico está aí para nos ajudar a compreender os prováveis motivos para as experiências que vivemos e, por consequência, para prever e explicar outras experiências, ao invés de nos dizer como a experiência realmente é. O processo científico tem, seja isso bom ou ruim, ajudado a criar uma imagem mental do universo (a qual deve ser no mínimo levemente diferente para cada um de nós) que explica os padrões por trás de todos os tipos de experiências.
No entanto a consequência disso é que ele sempre funciona da mesma forma, não importa se você está olhando para ele daqui ou dali ou nem mesmo esteja olhando. Isso sugere que verdades sejam absolutas, em regra. Nós construímos essa coisa que chamamos de "objetividade" a partir da coleta e organização de um grande monte de experiências subjetivas de diferentes pessoas, e frequentemente imaginamos que esta objetividade estava lá antes, e subjetividade é como chamamos isso quando uma determinada pessoa vislumbra essa objetividade como verdadeira. Mas objetividade é uma projeção - um modelo mental complexo e mutante que foi construído somente a partir da coleta destes vislumbres subjetivos, e fora deles, nós nem mesmo sabemos o que é isso que estamos vislumbrando.
Nós sabemos agora que esta verdade é frequentemente (ou talvez sempre) relativa. Einstein nos ajudou a começar a perceber que não devemos nos referir às verdades aparentes do universo como absolutas (e desde então as coisas se tornaram ainda mais estranhas). Mas nós ainda insistimos no hábito de imaginar que as assim chamadas verdades "objetivas" estavam lá primeiro, antes de sequer termos testemunhado qualquer uma delas - que o sol de fato não se põe; ele está lá queimando abertamente, não importa quem você seja ou onde esteja. Nós nos curvamos diante deste modelo como uma verdade real, e julgamos que nossa experiência pessoal (o pôr-do-sol propriamente dito) seja algo menos verdadeiro - como se o sol não se pusesse realmente, que isto é apenas uma ilusão, ou ao menos uma visão obscurecida do que está realmente acontecendo.
Eu acho que isso está ao contrário. O pôr-do-sol é real. Este é o fato primário, como são todas as experiências. Nós prestamos extremamente pouca atenção na vida como ela se desdobra em tempo real ao nosso redor e muita atenção nos nossos pensamentos e crenças sobre o que ela realmente é e o que realmente significa. O que é mais importante: quanto dinheiro você tem ou o quão ricamente você se experimenta ser? Nós todos sabemos que é possível uma pessoa ter muito mais riqueza em papel do que outra, no entanto sentindo-se pobre e restrita, enquanto a outra percebe abundância. Estes são estados subjetivos, no entanto eles importam mais na vida real do que o resultado objetivo de fatos físicos sobre tais respectivas situações.
O estado do mundo, por exemplo, é uma verdade relativa. É em grande parte relativa à quantidade de notícias que você assiste. Se você é um viciado em CNN, você vive num mundo mais ansioso e perigoso do que eu. Você pode argumentar o dia todo que trata-se do mesmo mundo, mas tudo o que importa é o mundo que você experimenta, e não como o mundo deveria ser fora da sua experiência.
Então amplie, viva daqui. Não permita que outros lhe digam como é o mundo, pois eles vivem em outro mundo. O que importa é como as coisas parecem ser, a partir da sua perspectiva. A sua qualidade de vida se encaixa na sua perspectiva, não no estado teórico do mundo, ou avaliações "objetivas" de sua situação de vida. Eu apostaria que a maioria ou todos os maiores avanços da sua vida resultaram em uma mudança de perspectiva, ao invés de uma mudança em algo externo. Mudanças de perspectiva devem ser cultivadas - gratidão pode ser aprendida, "pessoas más" podem ser perdoadas, você pode mudar por completo - e isto é equivalente a mudar o mundo inteiro.
O sol está se pondo agora? Depende de quem você é.
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Esta é uma tradução livre do artigo de David Cain, no Raptitude, realizada por Alexandre Heitor Schmidt.